Trauma do aborto provocado

Terapia Online - Lisiane Hadlich

Lisiane Hadlich

Desde o ano 2000, venho sendo uma força de mudança na vida de inúmeras pessoas. Jornadas marcadas por histórias de transformação e crescimento para adultos, adolescentes, casais e famílias - não importa a complexidade dos seus desafios estou aqui para te ouvir, apoiar e guiar você em sua busca por uma mente feliz e uma vida mais plena.

Trauma do aborto provocado: esse é o tema de reflexão para hoje. Decidi escrever este tema devido tratar consequências emocionais em pacientes que afetam muitas gerações posteriores ao trauma.

Minhas pacientes, que me inspiraram este texto, vem de famílias que tem o aborto como pratica cultural para não terem filhos. Começando pelo tempo de suas bisavós, avos, mãe.

Primeiramente, há 100 anos atras não haviam métodos anticoncepcionais tão eficazes como os atuais. No sistema familiar bisavó e avos, os abortos eram provocados quando havia uma nova gravidez depois de muitos filhos. E sempre em contextos marcados por pobreza e violência.

Psicologicamente, a nível de trauma do aborto provocado, existia a tristeza da perda e morte do feto, embora sempre uma violência psicológica acompanhando. Nesse sentido a autoridade de alguma figura familiar que desejava o aborto (marido, pais) e uma mulher desamparada psicologicamente submetendo-se a um aborto provocado.

Uma das consequências do trauma do aborto provocado, para quem o pratica, é a insensibilidade e frieza emocional. O que passa inconscientemente e nos relacionamentos para a próxima geração familiar.

Trauma do aborto provocado: gravidez indesejada.

Uma mulher que é gerada em um contexto de abortos, assim, desenvolve uma frieza emocional, relacionamentos amorosos conflituosos, com a tendencia de reproduzir a “gravidez indesejada” de suas antepassadas.

Dessa forma, entra-se na segunda geração dos abortos provocados. Com a frieza emocional, imaturidade nos relacionamentos e proteção sexual, a mulher engravida e decide pelo aborto com justificativas: “esta na hora errada”, “sou muito nova”, “vai atrapalhar meus planos”, ‘meu corpo eu decido” etc.

Portanto, percebe-se uma desconexão emocional, vinculo evitativo (falta da capacidade do amor incondicional) e a pratica de diversas violências ate a conclusão do aborto. Por exemplo, guardar segredo da família, omitir gravidez do pai da criança. Logo, segue-se a vida achando ter resolvido o “problema indesejado”.

Portanto, psicologicamente o aborto provocado, de livre e espontânea vontade por mulheres fora de situação de estupro (este trauma especifico abordarei mais na frente) esta ligado ao narcisismo. Ou seja, uma incapacidade de amar e fazer vinculo com outro ser, consciente ou inconsciente.

Decisão de ser mãe após abortos provocados: Vinculo evitativo.

Muitas mulheres que fizeram abortos por serem “indesejados naquele momento especifico”, decidem engravidar no futuro, sem o devido cuidado psicológico e emocional. Assim, as memorias emocionais do passado estão guardadas no útero (o novo feto pode sentir as memorias do que foi abortado) e toda a rejeição afetiva vai se fazer presente.

Essa mãe, durante a gravidez, pode desenvolver medo, culpa, ao mesmo tempo querer realizar o sonho de ter um filho. E após o nascimento da criança não conseguir vincular-se, o que gera o “transtorno de afeto evitativo” ou a síndrome da criança interior ferida.

Como psicanalista e especialista em traumas emocionais, minhas pacientes costumam procurar a terapia sendo a terceira geração após abortos provocados por sua mãe e ancestrais.

Muitas vem buscando tratamento para a criança interior ferida e transtorno evitativo, com as seguintes queixas: bloqueio sexual e afetivo, sensação de ser invisível, sentir-se apático e sem proposito no mundo, sentir-se perdido(a), insegurança crônica, traumas de abuso sexual, incapacidade de ter um relacionamento serio, frieza emocional, duvidas de identidade e gênero sexual.

Em resumo, em suas terapias comigo, com a hipnose, meditações, arteterapia, todas trouxeram memorias com sangue, morte, luta pela vida. Algumas pacientes chegaram a sonhar com fetos mortos e muitas não sabiam do histórico familiar. Após a terapia conversando com familiares descobriu-se as historias.

Assim, apropriando-se de suas dores e memorias, ressignificando os traumas abordagem apropriada, sentem-se existindo no mundo e aos poucos, ao longo do processo terapêutico, ir encontrando seu sentido no mundo. Conjuntamente, construir vínculos amorosos e leves.

Ressignificando os traumas uterinos e relacionamento materno com a Terapia Junguiana.

A titulo de esclarecimento, esse artigo não se refere ao trauma da violência sexual. Nesse sentido, embora o aspecto psicológico violência tem um vinculo com aborto, existe a violência do estupro. Ambas precisam ser ressignificadas emocionalmente com terapia especializada. Se for o seu caso, leia este artigo: https://mentefeliz.com.br/tratamento-psicologico-para-abuso-sexual/

Em suma, a maior consequência negativa psicológica do trauma dos abortos provocados vai ser, para filhos nascidos posteriormente, a falta de proposito no mundo e dificuldade de fazer vínculos, especialmente relacionamento amoroso duradouro.

Pessoas adotadas também podem ter essa herança emocional do sistema familiar de sangue. Nesse caso, pode acontecer o inverso: dos pais terem muito amor incondicional e a criança com esse trauma no inconsciente rejeita qualquer afeto.

Sabemos que a qualidade das amizades e relacionamento fazem a diferença na vida das pessoas. A ausência pode levar a depressão, solidão, ideação suicida, transtornos de agressividade.

Outra consequência negativa dos abortos provocados são os conflitos de maternidade e filhos, dificuldade de relacionamento. Por exemplo, ausência de comunicação afetuosa, rejeição, demonstração de carinho, passar tempo junto, elogiar, querer bem.

Pode ser buscar terapia para trabalhar o amor incondicional superando barreiras de afetividade. Buscar ajuda psicológica é o primeiro passo para melhorar e evitar decisões mal sentidas. O autoconhecimento traz auto estima, sentido de proposito, amadurecimento emocional e conhecimento dos desafios do sistema familiar.

Somos o que herdamos do nosso passado e frutos da decisão no presente. Cuidar da criança e do adolescente interior traz sentido e forca a vida adulta, especialmente as futuras gerações nascidas em novos padrões emocionais e de consciência.

Sobre a autora e mentora da Mente Feliz: Lisiane Hadlich Machado, é psicóloga e psicanalista, abordagem junguiana, hipnose, casais. Especialista em psicoterapia para traumas emocionais, atende online desde 2000.