Abuso sexual é uma grande violência. Um trauma físico, psicológico, social que vai gerar uma ruptura de vida interior, trauma de relacionamento e influenciando toda a vida social e amorosa da vitima. Na maioria das vezes, devido a vergonha também ocorre o silencio sobre o fato. A pessoa, seja menino(a), adolescente ou adulto, acaba guardando esse segredo, sofrendo, pode se sentir culpada e humilhada.
Um agravante dos abusos é que na maioria das vezes são praticados por pessoas de confiança ou da convivência. Pensando em crianças e adolescentes violados, a maioria convivia com seus abusadores. Por exemplo: vizinhos, empregados, primos, parentes, padrastos, madrastas. Como contar a família?
Os abusadores, pessoas muito inteligentes e controladoras, também vão empregar de chantagem, ameaças, se aproveitar do sentimento de vergonha e isso pode gerar um ciclo de abusos. Ate que o(a) jovem vai crescendo, dando-se conta que é algo errado e evita o abusador. Na maioria das vezes o processo de abuso sexual termina quando a vitima consegue cortar relações de contato com seu algoz.
No caso de pessoas adultas, muitas reprimem o fato ou negam na tentativa de evitar o sofrimento e também lidar com toda a questão cultural que envolve uma denuncia de estupro. O machismo e a hiperssexualidade são patologias sociais. Nada justifica um abuso, trata-se de uma conduta doentia e patológica e deveria ser punido pela lei com muito rigor.
Psicoterapia junguiana após o trauma.
No caso dos jovens pode-se levar muitos anos ate assumirem o que aconteceu. Procurar ajuda psicológica é essencial. Muitas vezes procuram ajuda quando estão vivendo conflitos em suas vidas amorosas ou sentem-se incapazes de ter prazer em relações sexuais. Tambem pode gerar uma hiperssexualidade. Nesse caso a pessoa pode ser viciar-se em pornografia e apenas se relacionar com profissionais do sexo. Tambem pode desenvolver condutas de infidelidade e vida dupla. E por outro lado podem ser pessoas com muito medo de perda, quando conseguem confiar em alguém desenvolve-se o pânico do termino.
A psicoterapia é essencial para lidar com a maldade humana, aprender a definir limites, comunicar-se, perdoar-se e conseguir reconstruir partes de si mesmo. Eu sempre digo para meus pacientes que nunca é tarde para falar e contar as historias verdadeiras, isso preveni novos abusos e traz forca. A reação ao trauma é algo muito importante que acontece no processo terapêutico.
Sair do silencio em busca do respeito, da dignidade e do direito de ser feliz. A falta de falar e buscar ajuda acaba aumentando os ciclos de abuso, quanto mais dialogo com pessoas positivas e que podem ajudar melhor.
O que pode causar um abuso sexual não tratado adequadamente?
Depressão com ideação suicida, baixa auto estima, falta de auto confiança, insegurança, incapacidade de construir relacionamentos felizes e saudáveis, falta de prazer na vida sexual. Além disso, personalidades mais patológicas podem tornarem-se abusadores.
Fazer as pazes consigo e recomeçar em relacionamentos
Esse é o maior desafio do trauma de abuso sexual. Socialização, conseguir perceber ate onde confiar em alguém. Estabelecer critérios conforme suas necessidades emocionais pessoais. Quem realmente ama sempre respeita, compreende. O amor inicia pelo auto amor. O autoconhecimento traz uma serie de benefícios, descobertas e renovações.
Levando Luz ao Trauma
Na minha experiência como psicóloga ainda percebo a dificuldade das vitimas lidarem com o trauma, aceitar o que aconteceu e conseguirem falar a respeito ate elaborarem psiquicamente todos os conflitos ligados neste complexo. Por exemplo, uma mulher em tratamento com conflitos conjugais e que sofreu abuso por anos na infância. Em uma terapia por mais de ano, a paciente digeriu o trauma, perdoou seus pais que ela culpava pela omissão diante dos abusos. Seus relacionamentos eram marcados por desconfiança, ciúme e com o processo terapêutico ela começa a resgatar seu amor próprio, diminuir auto cobrança, culpas e assim deixar mais leve seus relacionamentos sociais e familiares.
Segundo Jung, a mesma forca destrutiva de um trauma pode criar uma forca paralela para lutar contra este mal. Não se deixar dominar pelos sentimentos negativos, utilizar a racionalidade diante destes traumas críticos, se abrir em ambiente terapêutico.