O câncer é uma doença que amedronta, traz medo da morte. Algumas pessoas se recuperam e outras partem para eternidade deixando dor e saudade. O tema para reflexão psicanalítica de hoje: psicoterapia: aliada no tratamento do câncer. 

Em que sentido a analise é uma aliada? Devido o autoconhecimento, o apoio terapêutico para lidar com as demandas do câncer, o cansaço físico, gestão emocional do medo e perdas. Por exemplo: a confirmação do diagnostico, cirurgias, internações, quimioterapia, radioterapia, mudanças alimentares e da rotina da pessoa com câncer e seus familiares. 

Enquanto a medicina e corpo lutam pela vida, a pessoa oncológica e seus familiares entram em um turbilhão emocional. Por experiencia própria, já digo que é muito difícil aceitar e assimilar o diagnostico. 

Busca-se acreditar no tratamento e através da terapia iniciar reflexões para um novo estilo de vida que favoreça a saúde e recuperação. Mesmo nos casos graves, foca-se a qualidade de vida ou conforto do paciente. O que nesses casos a terapia vai ser de valorizar e comunicar tudo que se sente enquanto se tem tempo. 

Como psicanalista, participar do processo da despedida dos meus pacientes por quem amam é cruel e doloroso. Dessa forma, o luto nos coloca frente a impotência humana e brevidade da vida. Conjuntamente traz a tona essa questão da fragilidade da vida humana: doença, enfrentamento e faz pensar na possibilidade do luto e transformação. 

Câncer: psicoterapia para acolhimento emocional e gerir a exaustão. 

Ninguém está preparado emocionalmente para essa noticia. Inicialmente, ocorre um choque emocional, abalo na pessoa enferma e sua família. Levanta-se vários questionamentos, por exemplo: Como vou falar isso isso? o que vou fazer? é grave? quais as chances de cura? vou morrer?

Cabe ressaltar que muitas famílias não conseguem nem falar sobre o assunto, podem esconder a doença do paciente inventando outra menos grave e apenas alimentar as esperanças de cura. Segundo estudos da terapia familiar, isso acarreta graves consequências no processo de recuperação e luto.

Então, o primeira questão psicológica, da psicoterapia como aliada no tratamento do câncer, será a aceitação do diagnóstico. Bem como lidar com as estratégias de tratamento. Quanto tempo teremos?

Acredito que essa é uma questão particular de cada paciente oncológico. Alguns vivem dias ou semanas após o diagnostico, outros anos e outros se recuperam e entram remissão falecendo de outros motivos. 

Por isso, a terapia vai auxiliar a consciência emocional. O que pode ser feito? Qual o foco desejado para maior conforto? Quais atitudes podem gerar paz? Se ocorrer o luto, como a pessoa pode ser honrada? 

Qual lição fica para as pessoas que entram em remissão? E as que perdem seus familiares, amigos queridos? Meus pacientes que entram em remissão costumam se reconstruírem. A partir da terapia encontram hábitos de estresse a serem diminuídos, passam a valorizar mais o tempo em família e descanso. Assim, dedicando mais tempo a saúde e pessoas que amam. 

Meus pacientes que passam por lutos, passam a priorizar o dialogo, não deixar para amanha o que podem fazer hoje, aprendem a dizer que amam e cuidar da saúde para dar menos brechas para a genéticas e padrões nocivos a saúde. Por exemplo: estresse, cigarro, álcool, sedentarismo, reprimir sentimentos, julgamentos, criticas, conflitos. 

Psicoterapia aliada no tratamento do câncer: importância do dialogo e afeto

Por que se perde tanto tempo com o que não vale a pena? A doença oncológica traz muitas reflexões. Do mesmo modo podemos aprender sobre a alegria da viver e a exaustação da dor e procedimentos com os pacientes infantis oncológicos. 

Continuando a reflexão acima, as crianças oncológicas trazem a pureza entre a vida, doença, possibilidade do luto. Por serem jovens, conseguem falar o que sentem com mais facilidade, chorar, dizer o que desejam. 

Essa comunicação é uma estratégia de enfrentamento. Ser visto, falar, ouvir gera fortalecimento emocional, construindo resiliência para enfrentar os desafios. Exemplo desses: sintomas e efeitos colaterais (como dor, fadiga e náuseas), ansiedade, insegurança, desânimo, medo e estresse.

Parte desse processo também inclui as mudanças de rotina, reavaliar as direções e decisões a serem tomadas e ter tolerância para suportar constantes incertezas dessa fase. Muitas apresentam sintomas de depressão, 

Em decorrência do modo de vida, alguns indivíduos vão perdendo sua capacidade de ser espontâneos, a psicoterapia busca aumentar as possibilidades criativas, positivas e que gerem bem estar.

O suporte emocional oportunizado pela psicoterapia auxilia paciente e a sua família enfrentar as dificuldades da doença em todos os estágios. O fortalecimento do estado emocional auxilia a manter a calma, tomar decisões racionais, expressar sentimentos e emoções. 

Psicoterapia: autoconhecimento e suporte psicológico nos momentos difíceis

Portanto, como psicóloga e psicanalista, considero a psicoterapia uma aliada no tratamento do câncer. Muitas vezes são na doenças que a pessoas se aproximam, aumenta a intimidade com forca para desfazer bloqueios. E conversar claramente e ajudar as pessoas a enfrentar os medos, inseguranças e períodos de transição na vida. 

Apesar de todo o sofrimento envolvido, o próprio enfrentamento, nessas horas mais difíceis, traz o momento de zelar e reconhecer a forca desta pessoa. Enfim, não somente a doença, mas, o que existe de bonito naquela pessoa. Mesmo no luto, quem parte deixa uma parte conosco. 

Nota sobre a autora: Lisiane Hadlich Machado é psicóloga e psicanalista. Atende online desde 2000, adolescentes, adultos e casais que buscam por autoconhecimento, evolução pessoal e suporte especializado nos momentos difíceis da vida.